Aquela não era mulher de verdade

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Amélia é uma mulher de meia idade. Muita bonita. Uma polaca do interior do Paraná. A conheci no aeroporto, indo para Veneza. Descobrimos que estávamos indo para o mesmo destino. Ela era engraçada. A mil por hora. Difícil acompanhar. Ela era divorciada a pouco tempo, mas separada do marido já há alguns anos, ai finalmente ele resolveu admitir que o casamento não era mais possível.

Sabe daquelas meninas que crescem no interior? Assim era Joana. Casou, teve três filhos. Acredita que ela já tem um netinho? Ela e o marido tinham uma padaria lá no interior, aquele tipo de mulher que lava, passa, cozinha, leva as crianças no colégio, daquele jeito que tem ser. Ah Rosana, como você era a nora dos sonhos de qualquer sogra…

Enquanto trabalhava na padaria, sempre com o seu marido no caixa, Rita ia preparando a massa para fazer os sonhos da tarde. Era sonho de nata, era sonho de creme, de goiabada também tinha, de doce de leite e chocolate. Todo dia às cinco da tarde a Regina colocava os sonhos na prateleira, todos se saboreavam.

Sim, chegou o dia, o dia que os sonhos de Cássia desandaram. Ela tentou, isso é certo. Cristina sempre foi mulher muito dedicada, mas não tinha jeito de fazer a massa do sonho endireitar. Foi ai que Marina resolveu se separar.

Rafa não só se separou, mas decidiu parar de fazer sonhos para os outros. Nem de nata, nem de creme, nem de doce de leite, nem de nada. Sempre com aquela força de moça criada no interior. Mas ela ainda não estava contente. Ela queria mais. O que? A Cris ainda não sabia.

Um dia a Laura andando pelas ruas, passeando um pouco e pensando na vida, veio uma placa em sua direção: Trabalhe viajando o mundo. Ahh aquilo parecia ser recado certo. Julia não teve dúvidas, nem pensou duas vezes, ligou, se cadastrou e pronto, já estava do outro lado do oceano. Os filhos entenderam, meio mais ou menos. O caçula, de nove anos deu mais trabalho, mas o mais velho de 16 ajudou a explicar “mãe tá indo se encontrar”, “ué, mas ela tá aqui ó”, “sim, mas é diferente, mas não se preocupe, ela vai se encontrar, mas ela sabe bem onde você está”. E lá foi Suzane.

Ainda hoje não sei se ela se encontrou. É certo que desde aquele dia no aeroporto nunca mais deixei de pensar nessa polaca do sul. Sei que ela foi e voltou algumas vezes por ai. Resolveu um tempo atrás que tava precisando dar um trato no corpinho, sim, bem desse jeito ela falou. Acredite ou não, aquela maluca viajou para a Colômbia, pôs silicone no peito, puxou os pés de galinha, deu um tchan na lataria. É verdade que ela ficou linda, não que ela já não fosse. Na verdade aquela mulher parecia uma lâmpada de tão brilhante que estava ficando.

Carina também se deu conta que podia conhecer novos rapazes. Que não precisa se casar com todos eles. E descobriu que podia fazer muito mais com seu corpo além de plásticas. Essa Ana…ahh mulher danada. Dava muita risada com ela, com o tempo ela se tornou, como poderia dizer…Mulher Alfa Dominante. Não tinha como competir com essa mulher. A verdade é que acho que ela deveria dar palestras.

Esses dias fui lá na padaria. Encontrei com o marido dela, quer dizer, o ex marido. Rodolfo ainda não se conformava. Me reclamou que não parava uma funcionária na panificação desde que ela tinha ido embora. Fiquei com dó, não quis falar para ele que a Isa tinha se mudado para Nova York.

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